sábado, 13 de abril de 2024

86 mulheres foram mortas no Ceará em 2024

 

Em apenas 12 dias, este mês de abril registra pelo menos 18 mortes violentas de mulheres no Ceará. Os crimes ocorreram em Fortaleza, São Gonçalo do Amarante, Itaitinga, Acopiara, Guaiúba, Ubajara, Tianguá, Sobral, Acaraú, Parambu e Caucaia. O número faz parte da apuração parcial do O POVO e foi verificado caso a caso. Somados com os casos dos meses janeiro, fevereiro e março, que contabilizaram 68 mortes, são 86 mulheres mortas vítimas de violências.

Em Fortaleza, há registro de crimes violentos contra mulheres nos bairros Carlito Pamplona, Planalto Ayrton Senna e Damas. Importante ressaltar que os números de março estão registrados no relatório de ocorrências da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) somente até o dia 20, ou seja, há possibilidade do número ser maior que 86, em razão de serem dados parciais.

Conforme apuração do O POVO, a maioria dos casos de abril são registros de desaparecimentos de garotas seguido de achado de cadáveres, casos que envolvem facções criminosas e de torturas. Vítimas encontradas com pés e mãos amarradas.

No decorrer do ano de 2024, entre janeiro e março, foram 68 mulheres mortas por Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), que englobam homicídio, feminicídio, latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte. Pelo menos 33 cidades tiveram registros de morte de mulheres, sendo a mais velha com 64 anos e a mais nova morta em Caucaia, com seis anos de idade. Os dados são da SSPDS.

Os últimos casos foram registrados em Fortaleza, Caucaia, Guaiuba, ambas na Região Metropolitana. Além de Sobral, a 234 quilômetros da capital cearense, onde foi morta uma vítima identificada apenas como Luisa. Na madrugada desta sexta-feira, 12, no bairro Carlito Pamplona, duas jovens identificadas como Karoline Vitória e Luana Soares foram mortas a tiros.

Já em Caucaia, também nesta madrugada, Cátia Rocha, e 44 anos, foi morta em um imóvel no bairro Tabapuá. Ela foi candidata a conselheira tutelar. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) publicou nota de pesar em razão da vítima ser esposa de um advogado.

Além dela, uma mulher de 23 anos identificada apenas como Maria Eduarda foi morta a tiros no bairro Camurupim. Além de Eduarda, outras duas mulheres foram baleadas e socorridas a uma unidade de saúde.

Em Parambu, também nesta sexta-feira, a professora Verônica Pereira Cavalcante, de 39 anos, teve a casa invadida por criminosos. A educadora foi morta na frente da família dentro do próprio imóvel. O caso é investigado pela Delegacia Municipal de Parambu.

As investigações são realizadas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e Delegacia Metropolitana de Caucaia.

Nessa quinta-feira, dia 11, em Sobral, uma jovem de 19 anos foi morta. Conforme a SSPDS, a vítima possuía antecedentes por roubo e receptação. Ela foi atingida por tiros e socorrida a uma unidade de saúde, mas não resistiu aos ferimentos. O caso é investigado pela Delegacia Regional de Sobral.

Ainda houve registro de uma mulher morta em Guaiuba, na noite da segunda-feira, 8. Conforme a SSPDS, o corpo encontrado apresentava lesões por disparos de arma de fogo, na localidade de Baixa Funda.

No dia 10, os cadáveres de duas primas que estavam desaparecidas foram encontrados no município de Tianguá, na Serra da Ibiapaba. Eveline Sousa Mendes, de 18 anos e Marina do Nascimento Sousa, 15 anos haviam desaparecido no dia 1º de abril.

A Polícia investiga se o duplo homicídio possui relação com o caso de outra mulher que foi encontrada morta. Ana Vitória Duarte Pereira Batista, de 20 anos, desapareceu em março, mas teve o corpo encontrado no dia 5 de abril, também na zona rural de Tianguá.

Outro caso de desaparecimento ocorreu em Itarema, com a vítima Júlia Rafaela, de 17 anos. A moça foi encontrada morta no município de Acaraú no dia 10.

No dia 17 de fevereiro quatro mulheres foram mortas em Caucaia, na RMF. O crime, ocorrido no bairro Urucutuba, foi considerado uma chacina. Uma quinta pessoa que sobreviveu prestou depoimento apontando a autoria para integrantes de facções criminosas.

Entre os casos registrados neste ano, a maioria se destaca pelo envolvimento de integrantes organizações criminosas como mandante ou executora de mortes de mulheres. O POVO entrevistou uma fonte ligada a SSPDS que atua diretamente na investigação destes grupos. A identificação da fonte será preservada.

Conforme a autoridade policial, com a prisão de faccionados, sejam eles de baixa ou alta hierarquia na facção criminosa, a função é assumida pela companheira. "Há uma relação de confiança entre os dois e como o cônjuge tem o direito a visita, ela fica sendo a gerente do homem quando ele está preso", afirma.

A fonte aponta que as atividades ilícitas fazem com que a companheira fique em evidência e se torne alvo. Essas mesmas companheiras de integrantes de facções também atuam na ocultação de bens. Os homens colocam os bens no nome da companheira, da irmã, da mãe.

O entrevistado aponta que verificou casos que quando a facção descobre que a mulher estava envolvida na ocultação de bens da facção, a própria organização manda executar a mulher. "Decretam elas no lugar dos companheiros", descreve.

Indagado se a mulher tem "escolha" entre fazer parte ou não das ações ilícitas, diante da ordem da facção, a autoridade policial afirma que essa ordem para gerenciar parte do companheiro. "Para não perder as áreas de atuação, para não perder os meninos de guerra, quando ele é preso, se não colocar alguém de confiança, ele perde aquela área. Então ele coloca alguém de confiança até que se solte novamente", comenta.

De acordo com a fonte, durante as visitas, as mulheres de chefes de facção repassam atualizações sobre a área e recebem novas diretrizes. Do lado de fora do presídio, os criminosos respeitam as decisões e ações das mulheres como se estivessem recebendo do próprio chefe, pois sabem que é dele a determinação, sejam elas para prática de qualquer crime.

Para a fonte, muitas destas mortes estão ligadas a esse tipo de situação, pois as facções rivais veem as mulheres, companheiras de internos ou de pessoas envolvidas com o crime, como uma extensão das atividades ilícitas daquele rival, então, almejam matá-la. (Colaborou Cláudio Ribeiro)

Fonte: O Povo

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