sexta-feira, 22 de julho de 2022

Mortes por suicídio no Ceará em 2022 ultrapassam óbitos por acidente de moto

 

Ontem, uma pessoa tirou a própria vida no Ceará. Hoje, outra o fará. Ao fim do mês, terão sido, pelo menos, 41 suicídios. Essa é a média mensal trágica registrada no Estado, entre janeiro e maio de 2022, quando 207 pessoas – 171 homens e 36 mulheres – morreram por lesões autoprovocadas intencionais.

O dado alarmante, que reflete a gravidade de um problema de saúde pública, é do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), mantido pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), e, para se ter ideia, ultrapassa o número de mortos em acidentes de moto. O veículo que mais tira vidas, então, têm sido as próprias mãos.

Quem precisa de ajuda no Ceará pode buscar serviços públicos e gratuitos de assistência, como os CAPS, os núcleos de psicologia de universidades e o próprio Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pelo número 188.

O ano de 2021 foi o primeiro em que acidentes cotidianos, como os de moto, foram menos fatais que os suicídios no Ceará: 588 motociclistas e passageiros morreram após os sinistros, enquanto outras 673 pessoas cometeram suicídio.

Vale lembrar que a motocicleta é o veículo “mais fatal”. No Ceará, das 350 mortes no trânsito em 2022, 186 envolveram motos (53%). Já em Fortaleza, dos 184 óbitos nas vias no ano passado, 47% foram de pilotos ou passageiros, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Viária.

Ao trafegar pelas ruas cearenses, é comum ver placas alertando sobre uso de capacete, cinto de segurança e sobre uso de álcool ao volante. Mas com quantos outdoors sobre saúde mental topamos no dia a dia?

Quando o assunto é prevenção ao suicídio, por ser delicado, o silêncio prevalece – inclusive entre profissionais de saúde, como lamenta a psiquiatra Luísa Weber Bisol, professora de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Os próprios profissionais da saúde às vezes têm dificuldade de lidar com isso. Boa parte das pessoas que morreram por suicídio tinham estado em algum serviço médico 1 mês antes da sua morte. Há essa dificuldade de falar, de perguntar”, diz.

Um aluno me relatou que o paciente dele disse estar ‘com pensamentos negativos’. Perguntei quais pensamentos, o aluno respondeu: ‘não perguntei’. Mas quando a gente pergunta, abre espaço pra pessoa buscar ajuda. Quem se suicida está buscando um alívio do sofrimento, e não a morte.
Luísa Weber Bisol
Psiquiatra e professora da UFC

A psicóloga clínica Cecília Alves avalia que a política de saúde mental no Brasil “precisa de muito avanço”, que o “Estado tem limitações”, e exemplifica que “temos Caps, com trabalho maravilhoso, mas em número insuficiente”.

A sociedade, então, precisa se aliar. Falar sobre o assunto.
Como está o trabalho de prevenção?

A psiquiatra Luísa Weber Bisol supõe que os registros de suicídios estão “mais fiéis à realidade do que há 10 anos”, já que uma lei de 2014 obriga a notificação imediata de tentativas, mas destaca outro dado preocupante.

“41 suicídios por mês no Ceará resultam em mais de 1 por dia, certo? E para cada suicídio, temos, em média, 20 tentativas”. Ou seja, é como se pelo menos 4 mil cearenses já tivessem tentado tirar a própria vida em 2022.
 
Onde buscar ajuda

• Postos de saúde: as unidades são portas de entrada para obter ajuda especializada, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

• Centro de Valorização da Vida – CVV
Atendimento 24h
Contatos: 188 ou chat pelo site https://www.cvv.org.br • Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE)
Contato: 193

Fonte: Diário do Nordeste 

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