terça-feira, 13 de outubro de 2015

VIOLÊNCIA NO INHAMUNS É DESTACADA POR JORNAL


Tauá Com a crescente onda de violência e criminalidade nos sertões dos Inhamuns, a população está se sentindo insegura e realizou, há alguns dias, uma manifestação pela paz, neste Município. Vestindo branco, portando faixa e cartazes, as pessoas saíram às ruas ecoando seus gritos de indignação, tendo em vista que várias famílias estão tendo a vida de seus filhos ceifada.

"O que está acontecendo aqui, é que os nossos filhos estão sendo assassinados à luz do dia e são crimes com requintes de crueldade e, por incrível que pareça, é o que está prevalecendo aqui em Tauá. Infelizmente estamos observando as autoridades judiciais de mãos atadas. Ninguém está vendo sequer uma ação da Polícia para combater essa marginalidade. Em menos de 72 horas, três assassinatos aconteceram, as famílias estão desprotegidas. Estamos andando nas ruas com o sentimento de que podemos ser assaltados ou mortos a qualquer momento aqui em Tauá. Se instalou, o ciclo do crime organizado", desabafou a dona de casa Renata Gonçalves de Oliveira.

"Estamos pedindo socorro ao secretário de segurança do Estado. Esperamos que ele e o próprio governador Camilo Santana vejam a angústia de nossas famílias e mandem um reforço policial, façam blitze nas entradas e saídas da cidade, intensifiquem as operações de desarmamentos e deem busca de armas. Já bateu um desespero nas pessoas", completou.

Dentre as entidades que participaram do movimento pela paz, estiveram o Lions Clube, a Maçonaria, o Rotary Clube, Câmara Municipal, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - Subsecção de Tauá, Poder Judiciário, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Igreja Católica, Conselho Tutelar, polícias Civil e Militar e Prefeitura, além de entidades de classes e a sociedade civil organizada.

O comerciante Pedro Carvalho, residente em Parambu, disse que a situação é alarmante. "A realidade atual é a consequência lógica de um município de pouca educação e saúde precária, fatores que refletem indiretamente na construção de indivíduos que praticam a criminalidade, embora, de forma mais direta, esses elementos que praticam ou que foram vítimas dessa violência estão envolvidos com tráfico de drogas ou são usuários. São pessoas que vivem à margem da sociedade e vivem praticando esses delitos. Ainda assim, a população tem sentido falta de que haja uma investigação mais rigorosa".

Conforme ainda Pedro, "eles agem à luz do dia, matam de cara limpa, e vão embora. Ninguém sabe quem foi, ninguém sabe como foi. Isso preocupa e as autoridades têm que tomar um posicionamento". De acordo com Pedro, é necessário que os comandos das policias Militar e Civil tomem providências e deem uma resposta à sociedade.

"Prevalece na cidade uma associação criminosa que hoje é dominada por traficantes de drogas. Os crimes estão acontecendo à luz do dia. A população de Parambu não está vendo nenhuma investigação e punição para esses casos. Por sermos uma região de divisas com os estados de Pernambuco e Piauí, o tráfico de drogas tem entrado pelas fronteiras e está tomando conta de toda a cidade. Está prevalecendo, infelizmente, a lei do silêncio", aponta.

Recentemente, continua o comerciante, "o que mais chamou a atenção foi o fato de o suplente de senador, empresário Raimundo Noronha Filho, que é irmão do deputado federal Genesias Noronha, estar em pleno Centro da cidade e chegar uma pessoa proferindo palavras de baixo calão e, para evitar uma discussão, quando o empresário se retirou de um bar na garupa de uma moto, a pessoa desfechou contra ele vários tiros de revólver. A sorte é que não pegou nenhum. Foi uma tentativa de homicídio. A que ponto não chegamos! A população está refém do medo e da insegurança. Não estamos sequer conseguindo trabalhar normalmente em nossos estabelecimentos comerciais", pontuou.

O Padre Maurício Cherer, vigário da Paróquia de Tauá, disse que vê com muito bons olhos essa iniciativa da população, e disse que é importante que a Igreja esteja presente em todas as lutas da sociedade. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil decretou este ano como um ano da luta pela paz.

Polícia Civil
O delegado regional de Polícia Civil do Município de Tauá, Gregorio Neto, explicou que as polícias Civil e Militar estão fazendo um trabalho conjunto no sentido de inibir o tráfico de drogas, furtos e homicídios. "Estamos fazendo um trabalho ostensivo e preventivo. Constantemente, estão sendo cumpridos mandatos de busca e apreensões, não só em Tauá, mas nos cinco municípios na área em que atuo, além da realização de operações para apreender armas. Mas, infelizmente, mesmo com essas ações, os bandidos continuam ainda a comandar o tráfico de drogas na região", disse.

Segundo Gregório, "um traficante e quase toda a sua família estão presos nos Inhamuns, e, mesmo assim, ele continua comandando o tráfico de drogas e as execuções de dentro da cadeia pública. Tenho enviado ofício aos comandos das cadeias públicas, para que façam uma operação pente fino e não permitam a entrada de celulares, justamente para que fatos como esse não venham a acontecer. Apesar disso, o Inhamuns é uma região tranquila. Não temos percebido essas ações com maior incidência. O número de assaltos a bancos tem sido muito pouco. Ocorreu um em Quiterianópolis há pouco dias. Todos os envolvidos já foram presos".

Em relação às estatísticas, o delegado confessa "que não tem um numero preciso de quantos casos aconteceram. Entretanto, nos municípios de Parambu, Quiterianópolis, Aiuaba, Arneiroz e Catarina, os responsáveis pelas ocorrências foram presos em flagrante. Esses assassinatos que estão ocorrendo aqui em Tauá são consequência de uma briga de gangues. É preciso que a população possa nos ajudar, informando e denunciando anonimamente. Estamos intensificando as operações de combate ao tráfico de drogas, desbaratando as bocas de fumo, além das operações de desarmamento", destacou.

Gregório Neto contou que, nos municípios que fazem divisa com o Estado do Piauí, estão sendo desenvolvidas ações de inteligência. "Apesar deste trabalho feito, infelizmente, a criminalidade tem aumentado de maneira assustadora", reconhece.

O delegado se queixa das condições de trabalho. "Faltam condições para que possamos agir de maneira mais intensa. Aqui em Tauá só há um único delegado para atender uma demanda de seis municípios, que sou eu. Somente há dois meses foi nomeado um delegado para o Município de Parambu. É necessária a nomeação de mais dois delegados para nos ajudar: um na parte operacional e o outro para questões burocráticas, a fim de que possamos nos debruçar mais na prática destes crimes. Além disso, é preciso um maior efetivo de agentes da Polícia Civil. Temos um problema crucial aqui na região: ausência de cadeias públicas. Atualmente, só a de Tauá está recebendo detentos de Aiuaba, Quiterianópolis, Catarina, Arneiroz e Parambu".

Investigação
Conforme Gregório, "a Polícia Civil passa a custodiar esses detentos, uma atribuição que não é sua, porque os policiais, ao invés de estarem nas ruas, ficam restritos à delegacia, vigiando os presos que aqui se encontram. Só tenho três policiais civis por dia para atender à demanda de Tauá e mais cinco municípios. Além de ter que vigiar presos, o efetivo tem que fazer investigação, entregar notificação. Isso tudo, nas cinco cidades. Fica difícil prestar um serviço aceitável".

O delegado explica que "não contabilizei os homicídios do ano de 2014 porque assumi a delegacia regional no segundo semestre do ano passado. Em 2015, registramos em Tauá 20 homicídios entre consumado e tentado. Desse total, apesar do nosso pouco efetivo, conseguimos elucidar 12. Estamos com uma taxa de resolução acima de 80%, ou seja, maior que a média nacional, que é de apenas 11%. Se houver aumento de efetivo, nos iremos elucidar essas ocorrências que estão surgindo. Nos demais municípios, os casos são mínimos e já foram resolvidos. O tráfico de drogas ainda é muito pequeno. Estamos trabalhando para reduzir cada vez mais, com a chegada do Batalhão de Divisas. Tenho certeza que, após implantado, essa incidência vai diminuir em muito".

Polícia Militar
Conforme nota da sua assessoria, "a Polícia Militar (PM) tem intensificado suas ações na Área Integrada de Segurança 18 (AIS 18) com a realização de blitze, que são efetuadas por equipes do Comando de Policiamento Comunitário (CPCom), Policiamento Ostensivo Geral (POG), Força Tática de Apoio (FTA) e Comando Tático Rural (Cotar), com o apoio de agentes do Pró-cidadania. O policiamento tem o objetivo de reduzir os Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), que, no último trimestre, caíram 38% se comparados ao mesmo período do ano passado. Nos últimos três meses de 2015, foram oito casos contra 13 em idêntico intervalo em 2014".

Fonte:Diário do Nordeste

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